A partir do século XVIII, os historiadores começaram a se preocupar com outras discussões acerca da História, essas quais se desviavam da história dos feitos de grandes homens e suas estratégias
políticas, militares e suas guerras. Os olhos da historiografia voltavam agora sua atenção para fatores também, vistos por mim no contexto da já instalada Nova História, extremamente importantes para a análise de sociedades; como suas manifestações culturais, políticas,
organização econômica, leis, costumes, entre outros.
O historiador alemão Leopold Von Ranke representou o principal expoente desta recém surgida
visão da historiografia. Escreveu sobre assuntos que ajudavam na interpretação da história, porém,
usava predominantemente o modo positivista para estudar essas manifestações da história social
na tentativa de legitimar esta nova forma de exame do passado através dos documentos, resultando em uma nova abordagem dos acontecimentos, porém, estes permaneciam sob análise metódica.
Desse modo, a Nova História que pregava relações com as Ciências Sociais perdeu seu impulso e assim retornando à sua posição de invisibilidade historiográfica, e a História Política permanecia como a principal vertente de estudos.
Tal vertente demonstrou-se como a maior opositora aos estudos sociais, ainda que o monopólio da política fosse frequentemente contestado no fim do século XIX. A possível existência de um campo de pesquisa baseado na problematização que estudava os mais específicos detalhes era chacota de sociólogos como Augusto Comte, que defendia a existência de uma história indigente.
Já no contexto do início do século XX, a necessidade do exame minucioso dos acontecimentos do passado despertava novamente. O auge dessa vertente foi atingido com a fundação da revista francesa Les Annales d’ Histoire Économique Et Sociale em 1929, dando assim à Escola dos Annales o início como corrente historiográfica liderada por dois principais autores do movimento:
March Bloch e Lucien Febvre. Febrve possuía uma maior inclinação ao acoplamento dos estudos
da Geografia em suas obras, já Bloch se inspirava nas produções da Sociologia. De qualquer modo, ambos autores realizavam o exame da História exercendo características da interdisciplinaridade entre as Ciências Sociais. Outro fator de extrema importância para se entender o desenvolvimento dos Annales é o ambiente no qual suas pesquisas estavam imersas; a Universidade de Estrasburgo, na França, foi o palco da atuação de vários autores renomados e lugar de trabalho conjunto de Febvre e Bloch por treze anos.
Bloch defendia principalmente a ideia de se realizar comparações entre as sociedades europeias e outras sociedades globais buscando estudar suas diferenças e peculiaridades inseridas em uma perspectiva de análise que levava em conta suas coexistências no espaço e tempo. Durante esse período, Febrve trabalhava na escrita sobre O Renascimento e a Reforma Protestante, defendendo que o caráter apenas artístico e literário do Renascimento era incorreto e atribuindo essa revolução
ideológica à nova demanda de ideias e à crescente burguesia. Em relação à Reforma, Febrve defende que a Igreja Católica fora golpeada não apenas pelas vendas de indulgências, imperialismo político e abusos constantes, mas sim novamente pela necessidade ascendente em
encontrar uma religião “humana e amavelmente fraterna” que acolhesse, creio eu, a burguesia, que embora muito rica, era ainda marginalizada pelo fato de não possuir a nobreza em suas veias e criticava o constante intermédio entre Deus e o homem.
No contexto de um mundo abalado pelas ações da guerra, Bloch ressuscitou os planos incompletos
de Febvre para criar a supracitada Les Annales d’ Histoire Économique Et Sociale. Os dois historiadores tornaram-se diretores das atividades da revista com o claro objetivo de exercer influência que fosse predominante que atuasse como distribuidora da nova metodologia
historiográfica. O estudo mais substancial de Marc Bloch é seu ensaio sobre a Idade Média, “A Sociedade Feudal”. Nesta obra, Bloch traz novamente à tona sua afeição pela Sociologia tratando sobre o
conceito de coesão social proposto por Émile Durkheim inserido nas relações de dependência da sociedade feudal. Ele afirma que a construção do feudalismo era uma etapa da evolução social, dando à sua obra um ressaltante e criticado caráter sociológico.
Por volta da década de 40, Febrve expressou continuamente sua aversão ao método positivista sugerindo o fazer de uma história sensível, interdisciplinar e viés problematizado.
Com o estourar da Segunda Guerra em 1945, Bloch se alistou ao exército francês e abandonou a vida acadêmica temporariamente, até se juntar à Resistência francesa e ser fuzilado pelos alemães
nazistas em 1944. Febrve continuou publicando seus trabalhos na revista e junto de outros autores conseguiu conquistar a elite intelectual francesa consolidando Annales de uma vez por todas. O legado de Marc Bloch e Lucien Febvre era agora passado para uma nova geração de historiadores.
O mais expressivo estudioso depois da consolidação do novo método foi Fernand Braudel, um professor de uma escola na Argélia que publicou seu primeiro importante artigo em
torno da ocupação espanhola no norte da África no século XVI, discorrendo nessa obra recuperando o atributo repreensor em relação à antiga historiografia metódica centrada nos feitos de grandes personalidades. Durante o decorrer da Segunda Guerra Mundial, Braudel trabalhava em sua tese intitulada “O Mediterrâneo” onde redige uma profunda análise sobre a política externa do Mediterrâneo na época de Felipe II. Apesar de Braudel apresentar uma abordagem profissional sobre política e militarismo, o autor não se prende à história de grandes feitos, mas traz à obra uma sequência de descrições minuciosas sem deixar de explicitar a necessidade da história de introduzir indivíduos em um contexto mais abrangente.
Tal obra obteve notável efeito na sociedade da historiografia francesa e seus escritos são referências para inúmeras outras criações posteriores, demonstrando a enorme importância do volume para outras ciências sociais, relevando as poucas lacunas contestadas e a falta do aspecto
de dissertação sobre valores, ações e das manifestações da psicologia histórico-social que influenciou previamente Bloch e Febvre. Braudel contribuiu grandemente e de forma única para a mudança da percepção dos seus leitores sobre o espaço histórico transformando o Mar
Mediterrâneo na personagem principal em contradição ao seu uso puramente econômico e político
durante a presença do Império Espanhol utilizando a interdisciplinaridade com a Geografia no fazimento de uma invejável produção.
Durante o período de quase 30 anos, desde a morte de Febvre em 1956, Braudel foi o mais importante e renomado historiador francês, dirigindo os Annales e acumulando grande poder para tonar a História a disciplina dominante na bancada das Ciências Sociais através da oferta de bolsas de estudos que contribuíram para a disseminação da Nova História ao redor do mundo exercendo
atuação até os dias contemporâneos.
